O mecanismo, uma das mais novas séries do Netflix, trouxe polêmicas nada mais do que esperadas levando em conta a atual divisão política no país. É importante ressaltar que esta resenha crítica tem a intenção de ser politicamente imparcial e avaliar a série como obra ficcional. A série se baseia nos primórdios da Operação Lava Jato, tendo como personagens principais Marco Ruffo (Selton Mello) e Verena Cardoni (Caroline Abras). Os personagens são bem construídos e explorados pelo roteiro, principalmente a personagem da Caroline, que tem um tempo de tela maior que o Selton e entrega uma personagem forte e cheia de camadas.
Algo que não sustentou foi umas das sub-tramas da série, o relacionamento de Verena com o Claudio Amadeu, que cada vez que tinha espaço em tela apenas causava cansaço e frustração. Isso se deve a falta de preocupação do roteiro em criar uma conexão melhor entre os personagens, mostrando um relacionamento superficial e sem emoção. Diferentemente, a sub-trama de Marco Ruffo se apresenta bem colocada. Mostra que além do policial descontrolado e sedento por justiça, existe um marido e pai que vê as consequências de sua luta afetando sua família e tenta achar uma saída para este dilema.
Os dois policiais federais dividem a narração da série, tornando um pouco mais dinâmica a perspectiva da história. José Padilha já conquistou muitos com seu estilo narrativo único, que funcionou muito bem em seus dois filmes do “Tropa de Elite”. Já aqui a narração se perde um pouco, vezes funcionando e se encaixando perfeitamente bem, vezes parecendo redundante por falar coisas óbvias que já estão sendo apresentadas em cena. Alguns momentos a série pode parecer que está tentando forçar momentos grandiosos e com frases de efeito, mas este é o estilo de Padilha. Por isso, nenhum desses momentos pareceu exageradamente absurdo, apenas contribuíram para atmosfera instigante da série.
Algo que atrapalhou a imersão na série foram alguns problemas com edição e mixagem de som, pois há momentos que se encontram difíceis para escutar a fala dos personagens, principalmente nas narrações na voz do Selton Mello, que tem o costume de falar sussurrando. Em compensação a fotografia faz um trabalho belíssimo, juntamente com uma trilha sonora provocadora e cenários bem realistas. O resto do elenco também fez um trabalho excelente, em destaque o ator Enrique Díaz, que interpreta o Roberto Ibrahim. O personagem consegue roubar a cena e trazer o carisma que qualquer vilão deseja.
A série não tende a perseguir nem a esquerda e nem a direita, se assistida toda, percebe-se que ela quer mostrar que independente de partido ou ideologia, todos estão envolvidos no mecanismo. No geral, a maneira como a série conta os acontecimentos de forma frenética e intrigante cativou muitos, dando espaço no cinema para os acontecimentos da maior operação contra corrupção da história do Brasil.
Dica: antes de assistir a série busque conhecer os reais acontecimentos em que a mesma foi baseada para se encontrar ciente da realidade e poder apreciar a obra com clareza.