CRÍTICA – TENET

Tenet tem sido fonte de uma certa confusão. Não para entender o filme – bem, talvez aí também em algum grau – mas por ter recebido críticas iniciais pouco favoráveis e ter tido uma estreia de números pouco entusiasmantes para um filme de Christopher Nolan. Mas afinal, os números de Tenet tem mais a ver com a qualidade do filme ou com  a pandemia que fechou os cinemas e que ainda deixa muitos de nós ansiosos com a idéia de ficar trancados numa sala fechada com 300 estranhos?

Nolan tem um certo padrão em seus filmes. A qualidade deste não está particularmente abaixo destes padrões. Mas o efeito visual da inversão de tempo não é tão visualmente impactante quanto outros truques anteriores. Não é ruim, de jeito nenhum. Mas quando comparamos com A Origem, falta força. Visualmente o filme está dentro dos padrões, foi feito para ser visto em salas IMAX, conta com uma fotografia primorosa que passeia por locações maravilhosas. Mas o vai e vem do tempo só não tem a mesma força visual que os diferentes níveis de sonho interagindo um com o outro tinham em A Origem, os as imagens de espaço e outros planetas tinham em Interestelar. Mas tem uma força narrativa que talvez outros não tinham, pois as cenas que revisitamos quando o protagonista está no fluxo invertido se abrem de outras formas para nós.

Tenet é essencialmente um filme de espião com um truque para dar um diferencial. A inversão do tempo. Começa com objetos fluindo no sentido oposto do tempo, eventualmente chegamos a pessoas fluindo no sentido oposto. A premissa é uma guerra com o futuro, e um grande vilão com um plano de destruir o mundo. É uma boa premissa, e é um bom vilão. Mas os filmes de Nolan tem um preciosismo – e uma certa dose de pretensão – que talvez nesse não chegue lá.

Filmes de espião, filmes de detetive – e todos os filmes do Nolan – eles são filmes que gostam de fazer o público se sentir inteligente. O mistério se desenrola na sua frente e você se sente esperto por estar desenrolando ele junto com o protagonista. A narrativa de Nolan é bem simples, na verdade. Este é o truque, não importa se o assunto é distorções de espaço tempo causados por um buraco negro ou paradoxos complexos de viagens no tempo. A história é uma linha simples de seguir, e você se sente esperto por conseguir navegar por algo tão complexo.

Mas Tenet não é tão “redondo” quanto deveria ser. Dramaticamente, ele é perfeito. O que é engraçado para um filme tão marcado por um truque visual, ser tão guiado pelo desenvolvimento de seus personagens. As batidas dramáticas são todas perfeitas. As relações do vilão com o protagonista e a mocinha são centrais aqui e são perfeitas. Os atores são excelentes, o desenrolar do filme, passeando pelos fluxos de tempo, é perfeito. O que é menos perfeito é o “worldbuilding”, a construção do cenário para este drama acontecer. 

Tenet é uma palavra e um gesto, no começo do filme. Uma entidade ou organização misteriosa com um objetivo quixotesco: lutar contra o futuro. Ao contrário das cenas de ação que a gente vê e revê em diferentes sentidos de tempo, essa organização não é um ciclo bem resolvido. Enquanto você assiste uma luta corporal entre o protagonista e um soldado só pra reassistir mais tarde no filme a mesma luta agora no sentido de tempo reverso e com toda uma nova função dramática – mas o exato mesmo resultado dos eventos de antes, a ambientação do mundo não tem a mesma finesse.

É fácil entender que o personagem de Robert Pattinson já conhecia o protagonista de John David Washington, é tão fácil de entender algumas das questões das viagens no tempo que a maior parte do público certamente entendeu desde o começo alguns dos “twists” do filme. É de propósito, Nolan não quer que você se perca. Mas outras partes ele apenas corre pra frente e espera que você não pare para pensar muito sobre, pois se você parar para pensar… os truques vão ficar muito óbvios e você vai saber o que realmente aconteceu com o passarinho na gaiola, pra lembrar de um outro filme de Nolan.

Tenet sofre, portanto, um duplo azar: Não é a obra mais impressionante de seu diretor e entra em cartaz logo quando os cinemas reabrem após uma pandemia e encontra um público ainda cauteloso sobre aglomerações em lugares fechados. Está longe de ser um filme ruim como sua arrecadação de bilheteria inicial nos estados unidos sugeria. É um filme divertido, feito para ser visto na tela grande e com sequências de ação impressionantes. Mas a tradição de preciosismo e pretensão de filmes de Christopher Nolan fazem a gente esperar dele muito mais do que ele entrega.

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Vicente Marinho

Writer & Blogger

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