A Chegada é uma obra de arte que ultrapassa os limites do gênero. A nova película de Denis Villenueve — diretor de Os Suspeitos e Sicario: Terra de Ninguém — não é o que se está acostumado a receber de Hollywood em filmes de contatos alienígenas. A protagonista Dra. Louise Banks (Amy Adams) já dá uma diferença de tom claro, uma linguista que tenta ajudar o governo americano a estabelecer comunicação. Conhecemos aos alienígenas a partir de seu estudo da linguagem escrita deles — algo que já é extraordinário em ficção cientifica em si, já que tradicionalmente o estilo se foca em ciências exatas e suas extrapolações como acontece em Interestelar, um filme irmão deste em muitos aspectos, difícil de não comparar ambos.
O uso do som no filme, extrapolando e confundindo momentos de lembranças, sonhos e realidade, deixam o filme muito mais intimista, psicológico. Embora ainda seja bastante bonito visualmente, mesmo seus momentos de maior ação se baseiam mais na tensão entre personagens do que em explosões fantásticas de computação gráfica. É um filme que claramente teve muito cuidado em sua montagem, e cuja atuação de Amy Adams finalmente brilha depois de uma Lois Lane não particularmente marcante na franquia da DC. Jeremy Renner interpreta um colega da Dra. Banks, o físico Ian Donnelly, responsável por estudar a tecnologia dos alienígenas para o governo americano. Junto com a Dra. Banks, ele e um pequeno time são os únicos com contato direto com os alienígenas em sua nave. Cabe a Dra. Banks desvendar a linguagem e forma de pensar dos visitantes no meio de tensões politicas e militares sobre a presença deles. No meio desta tensão vamos conhecendo um pouco da história e do drama da doutora, sua filha, e seu divorcio. É um filme com muitas nuances, e que incita a vontade de assistir mais de uma vez para se absolver o todo.
Se não por mais nada, só pelo cuidadoso trabalho de montagem do som o filme já é um primoroso trabalho de narrativa audiovisual. Vale ser assistido, talvez até mais de uma vez.