A Mulher No Jardim se apresenta como uma obra visualmente impactante e ambiciosa, com o diretor Jaume Collet-Serra investindo em composições cuidadosas, bom uso de cores e um ritmo que, pelo menos inicialmente, consegue gerar tensão. A performance de Danielle Deadwyler é o grande trunfo do filme, sustentando com intensidade a espiral emocional de sua personagem, Ramona. Os demais membros do elenco também entregam o que o roteiro exige com química convincente.
A proposta é clara: transformar o luto, a culpa e os traumas psicológicos em horror palpável. E, por um tempo, isso até funciona. O primeiro ato planta mistério com competência, e a ambientação — uma casa isolada, familiar porém quebrada, com rachaduras, precisando de reparos — reforça o clima de incerteza. No entanto, o longa parece perder o equilíbrio ao longo da narrativa. A fusão entre metáfora e horror sobrenatural é desequilibrada, principalmente no terceiro ato, que opta por uma conclusão ambígua que corre o risco de passar uma mensagem errada.
Há mérito na tentativa de representar estados mentais extremos por meio de elementos simbólicos. Ainda assim, a literalização de temas como ideação suicida e psicose pode soar pesada e, em certos momentos, até problemática. A escolha de concluir a narrativa com uma sugestão de “final feliz” que talvez se revele ilusório — ou mesmo pós-morte — levanta questões sérias sobre a responsabilidade com que esses temas são tratados. Embora o filme encerre com um aviso de conscientização sobre saúde mental, é difícil não sentir que essa nota soa deslocada frente à ambiguidade narrativa anterior.
Apesar desses tropeços, o filme possui qualidades técnicas e artísticas que merecem reconhecimento. Sua proposta não é vazia, e há momentos de genuína sensibilidade. Mas A Mulher No Jardim é, ao fim, uma obra que pretende provocar reflexão — e talvez o faça — mas que, ao abordar assuntos tão delicados, precisava de mais clareza e, sobretudo, cuidado.