CRÍTICA – BASTARDOS INGLÓRIOS

Filmes divididos em capítulos como se fossem livros; roteiros e diálogos criativos e inesquecíveis; referências à cultura pop em geral e personagens cultos em diversos campos da arte. Os filmes de Quentin Tarantino têm esse aspecto quase único de sempre usarem uma fórmula similar aos anteriores, mas sempre inovarem e encantarem como nunca antes. E esse é exatamente o sentimento passado por Bastardos Inglórios, uma sensação única de surpresa em um tema já conhecido.

A história se passa na Segunda Guerra Mundial e aborda, predominantemente, um tema recorrente em discussões sobre o evento: a caça nazista aos judeus. Porém, nesse caso, o foco é em um grupo de judeus que caça nazistas, chamado de Bastardos. O filme é dividido em cinco capítulos que apresentam histórias conectadas e que culminam num final instigante e até irônico.

Estrelando Brad Pitt, como o Tenente Aldo Raine (líder dos Bastardos); Christoph Waltz, como Coronel Hans Landa (membro da SS e conhecido como “Caçador de judeus” por entre as tropas nazistas); Mélanie Laurent, como Shoshanna Dreyfus (uma judia que consegue fugir de uma tropa nazista durante a ocupação da França); entre outros.

O roteiro é atrativo por si só, funciona como uma releitura da Segunda Guerra mesclando ficção com o que realmente ocorreu. A construção é ótima, com um uso inteligente da não-linearidade (não tão presente dessa vez) explorada por Tarantino, uma característica que marca suas obras, mas que não as retarda ou danifica, apenas deixa o clímax mais interessante de se ver.

Não poupando cenas de violência, que também são marcantes nos trabalhos do diretor, o longa funciona como funcionou Pulp Fiction (também escrito e dirigido por Tarantino): apesar de curiosa e incomum, a história faz sentido, prende o espectador e encanta em todos os sentidos os amantes da arte.

O elenco em geral está sensacional, os sentimentos de cada personagem são passados de forma convincente para a tela. Com menção especial para Christoph Waltz (agraciado com o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo papel), que mescla genialmente cenas de total crueldade e frieza com cenas engraçadas e sarcásticas, o que causa o sentimento de “amor e ódio” pelo vilão.

A fotografia do filme, pelo três vezes vencedor do Oscar Robert Richardson é elegante, principalmente nas cenas de tensão entre os atores, deixando uma sensação de curiosidade pelo que está ocorrendo fora do quadro principal, como nas cenas de tortura dos Bastardos.
Os efeitos visuais em conjunto com a edição são interessantes e bem construídos. Menção especial para o clímax, uma das melhores cenas do cinema, na qual, ao mesmo tempo que uma projeção de um grande rosto é feita na sala de um cinema gritando palavras de repúdio aos nazistas, tudo ao redor está em chamas.
Diferente de filmes anteriores do diretor, como o já citado Pulp Fiction e Jackie Brown, a trilha sonora tem mais foco no instrumental, o que agrada, nesse caso. A composição combina com o tema e com o desfecho da história.

Diferente de qualquer trabalho do diretor em relação a tema, mas semelhante no resultado, Bastardos Inglórios é genial, bem humorado e cruel. E sabendo disso, fica uma sensação de que o final do filme é uma ode à metalinguagem de Tarantino: “Acho que essa é minha obra-prima”.