CRÍTICA – CAFARNAUM

Dante Olivier, artista plástico e dançarino, foi convidado pela Sétima Cabine para falar sobre o filme. Segue a crítica dele.

Zain (Zain Al Rafeea) é um menino de cerca de doze anos, que vive de forma precária com seus pais e muitos irmãos. Trabalha numa mercearia, cuida dos irmãos, não estuda, assumindo responsabilidades muito grandes para alguém de sua idade. Quando seus pais fazem sua irmã Sahar (Cedra Izam) de 11 anos casar-se com um homem muito mais velho, Zain foge de casa tendo que lidar com problemas ainda maiores. Levando o garoto a querer processar seus pais por terem o colocado no mundo.

 

Cafarnaum é um drama extenso, mas que ao se permitir, flui de forma tão intensa que mal se sente a passagem do tempo, tem a estrutura já conhecida de começar a história pelo final o momento em que Zain processa seus pais, e ir então contando o que levou a trama até ali. O roteiro não te deixa totalmente perdido na narrativa, mas te provoca confusões que intrigam, o que acaba por deixar o expectador mais imerso aguardando o que está por vir.

 

O filme te coloca em conflito com vários dilemas morais, em relações familiares, miséria, violência, papéis sociais de gênero, refugiados, entre outros que vão se conectando nas camadas do filme de forma natural e convincente, com a ótima direção de Nadini Labaki, que é atriz e tem uma ponta no filme aparecendo como advogada do protagonista, apresenta um drama que apesar de começar em um tribunal e ter seu desfecho nele, não limita sua narrativa a isso. Possui uma fotografia bela e suja, câmeras trêmulas bem aplicadas e breves momentos de contemplação em meio ao caos.

 

O Zain é um garoto assustadoramente maduro para sua idade, fala e se porta como adulto por causa das responsabilidades que a vida, e seus pais, colocaram nele desde muito cedo e em momentos se vê lapsos de infância no garoto, aprofundando mais o drama de como ela foi arrancada dele. A interpretação do protagonista é forte, você acredita nele, em sua história e sente o que ele sente. Seus pais são problemáticos e é um exercício duro de entender como o sofrimento que passaram em suas vidas os levou a serem quem são. Apesar de não terem tanto aprofundamento como o garoto, não se deixa de ver verdade neles, assim como na maioria dos outros que compõem o elenco.

Crítica de Dante Olivier

 

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Vicente Marinho

Writer & Blogger

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