Lembrar o passado nem sempre é fácil, mas em O Melhor Amigo, Allan Deberton propõe um reencontro entre afetos e memórias embalado por um musical tropical recheado de referências da cultura pop brasileira. Inspirado no curta de 2013, o longa nos leva a um universo onde a amizade e o amor se entrelaçam, com a trilha sonora ditando os passos dos protagonistas.
A trama segue Lucas (Vinícius Teixeira), um arquiteto bem-sucedido que, mesmo em um relacionamento estável com Martin (Léo Bahia), sente um vazio existencial. Quando parte para Canoa Quebrada em busca de respostas, reencontra Felipe (Gabriel Fuentes), sua antiga paixão dos tempos de faculdade, que agora trabalha como bugueiro. Esse reencontro, permeado por canções icônicas dos anos 80 e 90, coloca Lucas diante de suas inseguranças e desejos reprimidos.
A grande força do filme está na ambientação e na trilha sonora. Com clássicos como Amante Profissional do Herva Doce e Perigo de Zizi Possi, as cenas musicais extrapolam a narrativa tradicional e transformam o filme em um espetáculo visual e sonoro. Momentos como a apresentação de Doce Mel (Bom Estar com Você), conduzida por Deydianne Piaf (Dênis Lacerda), enchem a tela de brilho e irreverência, destacando a presença marcante do humor cearense.
As atuações são um dos pontos altos. Vinícius Teixeira entrega um Lucas introspectivo e carismático, enquanto Gabriel Fuentes cria um Felipe envolvente, mas de personalidade volátil. A dinâmica entre os dois é realista e tocante, com nuances que remetem às incertezas de um amor de juventude que retorna inesperadamente. Mas é Deydianne Piaf quem rouba a cena, sendo não apenas um alívio cômico, mas também uma guia emocional para Lucas, proporcionando alguns dos momentos mais impactantes do filme.
A nostalgia é um dos elementos mais bem trabalhados na narrativa. A inclusão de figuras icônicas como Mateus Carrieri, Cláudia Ohana e Gretchen não é apenas um aceno ao público que cresceu nos anos 80 e 90, mas também uma forma de celebrar uma cultura televisiva que moldou a geração que hoje está à beira dos 40. Essa revisita ao passado não é gratuita, mas sim um convite a refletir sobre quem fômos e quem queremos ser.
No entanto, O Melhor Amigo não é apenas uma história de romance ou reencontros, mas um conto sobre autodescoberta e autoaceitação. A mensagem é clara: antes de encontrar o amor em outra pessoa, é preciso estar bem consigo mesmo. E, como ensina Flashdance… What a Feeling, podemos até chorar sozinhos, mas devemos sempre ter orgulho de quem somos. Com um roteiro envolvente, performances cativantes e uma trilha sonora que se fixa na memória, Allan Deberton entrega mais uma vez um filme que emociona e diverte, consolidando-se como um dos grandes acertos do cinema nacional recente.