Adaptação do livro de mesmo nome escrito por Michael Punke, que se baseou na história real de Hugh Glass, O Regresso se passa no velho oeste e conta a história de um explorador e comerciante de peles – Glass – que é ferido por um urso e deixado para morrer numa floresta após seu filho ser assassinado por um de seus companheiros. À beira da morte e congelando por conta do clima, Glass usa de toda sua força e experiência para sobreviver às situações que terá de enfrentar – enquanto precisa fugir de um grupo de nativos hostis, outros comerciantes pelo caminho e seus próprios ferimentos – para conseguir vingança. Alejandro González Iñárritu, conhecido por filmes consagrados como Babel e Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), dirige e escreve o longa junto com Mark L. Smith. O elenco é composto por nomes conhecidos, como Leonardo DiCaprio e Tom Hardy (que já trabalharam juntos em A Origem, de 2010).
Muitos adjetivos podem ser utilizados para caracterizar esse filme, mas o principal deles é, sem dúvida, “cruel”. Todos os variáveis aspectos contribuem para uma história com um caráter trágico e uma intensidade brilhante. A marca de direção e escrita de Alejandro G. é o mais perceptível na análise, sua valorização da fotografia e seu apreço por intensidade de atuação e cenário são as características mais chamativas para deixar uma história tão trágica e cruel plausível aos olhos daqueles que não acreditam como alguém pode sofrer tanto e chegar a esse limite de sobrevivência.
Obviamente, nada disso seria possível sem atuações que expressassem o pânico do sofrimento humano com a mesma credibilidade que o roteiro, e é esse o mérito de Leonardo DiCaprio. Em uma de suas melhores atuações, DiCaprio consegue expressar a situação que se envolve de forma tão real que a sensação é que todas aqueles pesares realmente o traumatizam. Seja por sua postura em cena, por sua expressão facial ou por sua capacidade de adaptar passagens fortíssimas, o ator foi a um limite de atuação incrível.
Tom Hardy também mostra uma atuação brilhante. Como ‘antagonista’ da história, o ator britânico conseguiu adaptar muito bem a personalidade fria e cruel de seu personagem, com todas as características que explicam o porquê da existência dessa personalidade: todo o sofrimento superado, o trauma e, de certa forma, uma ânsia por sobrevivência. Assim como pode ser visto no personagem de DiCaprio, a crueldade e o pânico são perceptíveis em simples olhares ou expressões faciais, mostrando assim a intensidade alcançada pelos dois atores.
A fotografia adotada possui muita semelhança com a de Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), as cenas possuem poucos cortes, valorizando o máximo dos incríveis cenários apresentados, já que praticamente o filme todo se passa em florestas quase sempre enevoadas e escuras. O método combinado com a incrível maquiagem, que também ajuda na sensação arrepiante de sofrimento, dá um aspecto visual muito realista. Mérito dividido com os efeitos visuais sensacionais, principalmente quando Glass é atacado por um urso, o nervosismo passado naquele momento se deu por uma junção dos três pontos citados, criando uma cena forte e agoniante.
A trilha sonora é um dos pontos menos notáveis, apesar de não ser ruim. A música expressa muito bem o suspense, o drama e a ação necessária em cada passagem, mas acaba por quase sempre dar lugar ao que pode ser ouvido da cena em si.
A grande amostra da genialidade e da intensidade alcançada por DiCaprio em suas atuações, em combinação com uma direção incrível do experiente Alejandro González Iñárritu, criou um espetáculo visual que surpreende do início ao fim. O Regresso está sendo indicado a doze Oscars e vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme de Drama, é um dos favoritos à estatueta de Melhor Filme de 2015.