Quando você pensa que a febre dos filmes inspirados em zumbis canibais já tinha ido no seu ponto mais crítico – pornôs canibais grotescos que utilizam da piada “comer duas vezes“- eis que chega aos cinemas Orgulho e Preconceito e Zumbis. Sem querer fazer trocadilhos ruins, mas inevitavelmente o fazendo, é necessário ir além do preconceito para assistir o filme.
É claro para qualquer pessoa, que sátiras de grandes clássicos raramente possuem críticas positivas e Orgulho e Preconceito e Zumbis não está longe disso. A capacidade de lidar com ironia e sátiras sem que a obra pareça uma total piada sem sentido e fundamento é algo realmente difícil de possuir. A primeira impressão que se pode ter do filme é que ele não estava nas mãos de alguém que possuía tal capacidade.
Orgulho e Preconceito é umas das obras mais reconhecidas mundialmente, tida como um clássico britânico inspirador. Incluir zumbis e artes maciais chinesas na Inglaterra Vitoriana talvez seja algo que pode ser considerado original e inovador. Porém, nem toda a inovação é positiva. Trazendo temas atuais como, por exemplo, o feminismo, o filme faz uso do humor de forma exagerada, tornando quase impossível pensar no filme como de fato uma adaptação.
O filme é surpreendentemente fiel a obra original de Jane Austen. Confesso que li a obra de Jane Austen “Orgulho e Preconceito (1813)” e, infelizmente, não tive a oportunidade de ler o livro de Grahame-Smith. Entretanto, posso afirmar com toda certeza que tanto o filme quanto o livro foram objetivados a fazer uma homenagem respeitosa ao clássico britânico. Discursos clássicos de Austen são aproveitados na íntegra no filme, o que torna as relações entre os personagens envolventes. O uso da linguagem formal também ajuda a reforçar a ambientação, bem como o figurino, que busca mobilidade entre tecidos pesados e elegantes, especialmente para as meninas. Porém, isso não impediu do filme ser tido como de fato é: uma típica sátira que desafia o bom senso das pessoas. O filme tem um quê de Abraham Lincoln – Caçador de Vampiros, seguindo apenas a tendencia de humor exagerado das comédias contemporâneas.