No seu primeiro filme hollywoodiano, o diretor argentino Damián Szifron, conhecido por Relatos Selvagens, apresenta um thriller policial que aborda a epidemia de ataques em massa cometidos por atiradores nos Estados Unidos ao longo das décadas. A protagonista é Eleanor, interpretada por Shailene Woodley, uma policial que se vê envolvida em uma série de eventos perturbadores, incluindo um ataque armado onde várias pessoas são mortas. Demonstrando competência ao filmar os moradores em fuga na tentativa de identificar o atirador, Eleanor chama a atenção do agente do FBI Lammark e é recrutada para uma importante função na investigação.
O marketing do filme parece não compreender a história que quer vender, ao tentar retratar Eleanor como potencialmente psicopata, capaz de entender a mente do criminoso. Este não é o filme que você vai assistir. Logo no começo Lammark ressalta que é um equívoco rotular o atirador como “doente mental” e menciona transtornos mentais comuns entre agentes policiais. Embora Eleanor tenha um histórico de saúde mental difícil, incluindo vícios e tendências suicidas, a ponte entre suas doenças e o assassino não são o principal ponto do filme. Na verdade a trama se desenvolve com Eleanor envolvida em um jogo político em torno da investigação, em meio à corrupção policial e ao racismo sistêmico, onde indivíduos que não se encaixam no perfil do assassino, mas são árabes ou negros, tornam-se suspeitos imediatos. O filme aborda questões de corrupção, racismo sistêmico e ineficiência governamental. O inimigo maior é o atirador que eles precisam capturar, mas há antagonistas na própria força policial atrapalhando uma boa investigação. Há um grande esforço em pintar muitos tons de cinza com um sucesso limitado, não se aborda com profundidade as ineficiências policiais e governamentais e Eleanor segue sendo a essência de “mocinha” independente de um dia ter sido viciada em drogas.
Embora tenha recebido críticas negativas nos Estados Unidos, a falta de identidade do filme em sua campanha de marketing pode ser uma das razões. Apesar de se perder um pouco nos temas que pretende abordar, o filme entrega um thriller policial clássico e decente, algo que há tempos não se via na produção americana. Embora esteja longe de ser perfeito, não merece o desprezo recebido das críticas locais.
