CRÍTICA – TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME

Três Anúncios Para Um Crime chega aos cinemas em 15 de fevereiro de 2018.

Após perder sua filha por meio de um crime terrível e passar meses sem esclarecimentos da polícia, Mildred Hayes (Frances McDormand) decide alugar três outdoors numa rodovia que passa pela cidade onde mora. Neles, ela faz críticas curtas em relação à gravidade do crime e à falta de ação da polícia. Com isso, um sentimento de ódio começa a circular pelos habitantes da cidade, divididos sobre apoiar o sofrimento de uma mãe ou uma polícia supostamente injustiçada. O elenco é completado Woody Harrelson (Bill Willoughby), Sam Rockwell (Jason Dixon), Lucas Hedges (Robbie Hayes) e Peter Dinklage (James). O roteiro e a direção são de Martin McDonagh.

Três Anúncios Para Um Crime possui uma trama cruel que representa a absurdez de uma cultura em que a violência é uma parte da vida, enquanto a empatia quase não existe em sua realidade. O primeiro acerto do roteiro é mostrar que a crueldade do ser humano pode ser como um comportamento instintivo de um animal, é algo que nasce e se libera sem que ele necessariamente tenha aprendido aquilo. Mesclar isso com uma série de personalidades desequilibradas por estilos de vida, escolhas passadas errôneas e retrocessos culturais é criar um retrato incrível do quão baixo o ser humano pode ir para proteger seus interesses e se eximir de culpa. McDonagh faz um trabalho ímpar ao apresentar uma trama ficcional tão real que aparenta ser ilógica e incoerente ao ser comparada com o real comportamento humano. Em suma, Três Anúncios Para Um Crime é um espelho contando uma história de dor e crueldade de uma forma genialmente sarcástica.

Tecnicamente, é um filme operante no que se propõe. Uma escolha engenhosa de McDonagh é explorar a fotografia em planos visuais fixos. Porém, há um plano sequência dinâmico muito bem dirigido, sendo uma fuga inventiva da técnica estática utilizada até então. McDonagh trabalha a geografia de seu cenário de uma forma muito experiente.
O design de produção e o figurino retratam, na maioria do tempo, cores frias, cruas, enquanto que em momentos emocionalmente instáveis surgem as cores cálidas, chamativas. É uma manipulação sentimental sutil, mas inteligente.

As interpretações são arrepiantes. Começando por Frances McDormand, interpretando uma mulher forte e atormentada, que passou tanto tempo vivendo num mundo odiável que acabou se tornando uma pessoa odiável junto com ele. De início, ela se apresenta como uma mulher deprimida pela dor da morte da filha e pela sensação de desleixo por parte da polícia responsável pela investigação. Porém, o sarcasmo delicioso da trama prega uma peça no espectador ao mostrar que toda a dor da mãe não existe por ela ser uma boa mãe, mas sim por ela ser uma mãe culpada. O ódio de Mildred não existe por culpa dela, sua parcela de culpa está na necessidade de infectar os demais com esse ódio, de propagá-lo e fazer com que esse seja seu retrato perante a sociedade: uma mulher forte, deprimida, mas deplorável. Uma atuação forte, sensível e cruelmente real. Frances merece esse Oscar!

A demonstração da culpa que Mildred carrega faz com que o personagem de Lucas Hedges seja importantíssimo para a trama. Ele é o retrato de um jovem deprimido e cheio de ódio que foi infectado por seus familiares igualmente odiosos. Um personagem muito bem escrito, porém mal atuado. A interpretação de Hedges é unilateral, não mostrando a densidade que o personagem precisava. O que fica é uma sensação de Sofia Coppola em O Poderoso Chefão – Parte III: teria sido um personagem dramaticamente significativo se tivesse sido melhor interpretado. Outro personagem subutilizado é o de Peter Dinklage, que apesar de possuir um propósito interessante, não tem muito tempo em cena para se desenvolver.

Woody Harrelson e Sam Rockwell interpretam os dois policiais intimamente ligados ao caso da filha de Mildred. Harrelson apresenta uma interpretação sensível e frágil, possuindo uma mistura de culpa e insatisfação. É um homem que foge de tormentos por possuir muitos deles dentro de si. Uma indicação merecida ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
Porém, a estatueta provavelmente terá outro destino: Sam Rockwell. Dixon é um policial jovem, despreparado, impulsivo e com uma moral extremamente infame. Esta é a personalidade apresentada no início da história. Mas quando a trama começa a ser desenvolvida e suas camadas começam a ser descascadas, o espectador acaba se vendo diante de uma história de redenção e arrependimento. É importante ver como o personagem sofre as consequências físicas e psicológicas de seus atos. Rockwell manipula o papel de forma primorosa, realista e sarcástica. Um bom exemplo de como um personagem caricato pode desenvolver-se em diferentes esferas morais. Extremamente bem atuado, tanto verbal como corporalmente.

Três Anúncios Para Um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, no original) é um filme cruel, inteligente, bem escrito e dirigido, com personagens moralmente corrompidos e atuações magistrais, dignas de reconhecimento e aclamação.

Confira o trailer:

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Sétima Cabine

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