CRÍTICA – A DIVISÃO

O filme já começa mostrando para gente que não existem heróis moralmente limpos nesta história, e acabamos tendo que escolher entre “o menos pior” para torcer. Enquanto Santiago é de antemão apresentado como corrupto (e sequestrador), ele se sente moralmente correto pois suas vítimas são bandidos, Mendonça é questionavelmente limpo e incorruptível, não negocia com bandidos e quer limpar a divisão anti-sequestros, mas é um torturador de dedo pesado e que claramente deixa um rastro de sangue na sua “limpeza”. Os dois contrastam com Benício, que embora não seja tão evidentemente corrupto ou carniceiro de começo, parece movido por interesses muito menos nobres.

É fácil entender que Benício é o problema, mas é difícil entender Santiago ou Mendonça como uma solução apropriada também. É mais fácil, talvez, entender Mendonça como herói, já que começa salvando a vida de uma criança sequestrada sem nem ser da divisão anti-sequestro — mas a utilidade real desse ato acaba sendo questionada ao longo da história, e a utilidade de todo o sangue derramado é bem questionável. Já Santiago começa já sendo apresentado no meio de uma ação corrupta, extorquindo um bandido, mas é dentro da divisão anti-sequestros talvez um dos mais preocupados em realmente proteger a vítima.

O filme mostra o conflito entre Mendonça e Santiago, porém o interesse comum dos dois em proteger as vítimas os aproxima, por mais que ambos vejam um ao outro como sujos. E os esforços conjuntos dos dois, mesmo que nem sempre concordando, vai dando frutos e mexendo em muitos vespeiros. Torcer por uma solução moralmente correta neste filme vai se tornando cada vez mais difícil, mas ficamos torcendo pela solução menos pior, e seguimos levando tapa atrás de tapa na cara.

As atuações no filme são excelentes, a trama é muito envolvente e mesmo que algumas mortes de personagens sejam um pouco telegrafadas ainda te dói na hora que acontece. Ninguém entra num filme destes esperando ser poupado de mortes na tela, mas o roteiro não poupa ninguém em prol de um final mais palatável. Vá preparado.

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Vicente Marinho

Writer & Blogger

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