Viola Davis veio ao Brasil divulgar o lançamento do filme, e na coletiva de imprensa um jornalista da Folha de Pernambuco pergunta: qual a importância do Brasil na trama? A resposta vem honesta e direta. A importância do Brasil na trama é por que o Brasil foi o maior destino de africanos escravizados da história do tráfico de escravos. Nosso papel nesta instituição cruel que marcou nossa história por mais tempo que qualquer outro país das Américas fica claro no papel do comerciante brasileiro que negocia os escravos no porto do reino de Daomé, e nas falas em português dos únicos personagens brancos relevantes da trama.
Mas não somos apenas os vilões. O melhor amigo do escravagista é um homem mestiço, filho de uma negra de Daomé e um Brasileiro Branco. Veio com o amigo para a África após a morte da mãe a pedido dela, para conhecer sua origem. A escravidão não é uma instituição e um comércio estranho para ele mas ele nasceu livre. Mas se vê apaixonado por uma guerreira Daomé e questiona pela primeira vez as instituições ao seu redor e seu lugar nelas. São as duas únicas vozes não africanas na trama, todo o resto gira em torno de africanos. O rei Daomé e seu adversário numa guerra antiga- ambos vendem prisioneiros de guerra no mercado de escravos para os brancos – são o pano de fundo onde Nanisca, a titular Mulher Rei (um cargo diferente de Rainha, na verdade), cresce enquanto guerreira e general na corte de Daomé e percebe o risco concreto que o comércio de escravos representa para os africanos. Nanisca e os Daomé – e sua resistência a escravidão, são fatos históricos que a trama se baseia. E a general e seu grupo de guerreiras, as Agojie, e suas batalhas são tudo que você vai querer ver na tela durante esse filme de ação histórico.
As sequências de ação são fantásticas, não deixam a dever para nenhum outro filme de ação. As Agojie são um pouco mais pé no chão se comparadas a tendência super-heróica dos filmes atuais mas as batalhas são épicas. Saber que tem uma base real por trás da história trás um impacto diferente. Uma experiência que recomendo a todos brasileiros, para aprendermos mais sobre nosso próprio papel nesta história e para aprendermos a força que mulheres negras tiveram na resistência a essa instituição que fingimos que acabou pela benevolência de uma princesa branca apenas.