Focado no dia a dia de uma família pobre que luta para sobreviver, recorrendo a furtos de mercados e lojas para complementar os salários de empregos mal remunerados, e que apesar de todas as dificuldades, encontram espaço na casa apertada para adotar uma garotinha necessitada, Assunto de Família (ganhador do “Palma de ouro” do Festival de Cannes) conta a história de um núcleo familiar aparentemente tradicional, o que aos poucos é desconstruído pelo roteiro ao mostrar que os personagens compartilham laços arbitrários, não de sangue. O filme aborda outros assuntos como abuso, tanto físico quanto psicológico, no ambiente familiar, adoção, adolescência e luto.
A relação entre os personagens é bem desenvolvida pelo diretor e roteirista, Hirokazu Koreeda, ao acrescentar cenas de diálogos bem trabalhados e se fazem possíveis pelo trabalho convincente do elenco, que entrega emoção desde sua atriz mais velha (Kirin Kiki) até os seus dois atores mais jovens. Isto e cenas que nos conectam ao nosso próprio dia a dia, levam os espectadores a se relacionarem mais facilmente com os membros da família japonesa.
Por outro lado, peca em cenas que parecem desconectadas do filme, deixando algumas pontas soltas, jogadas ao acaso e, por vezes, vagas. Outra desconexão do filme parece ser o terceiro ato, quando o enredo toma um rumo mais frenético oposto a relativa calmaria do restante, com reviravoltas que incitam e saciam a curiosidade, porém poderiam ter sido melhor trabalhadas ao decorrer do longa.
Em sumo, é um filme bom para aqueles que gostam do gênero de drama doméstico e não se importam com um ou outro ponto esquecido na história. Apesar de ser extenso, um total de pouco mais de duas horas, o filme não é arrastado ou entediante, e conta com o carisma dos personagens e empatia do espectador por eles para torná-lo uma experiência agradável.