Refazer um grande épico, um marco do cinema, é em si só uma tarefa bem… épica. A própria filmagem do primeiro Ben-Hur tem características épicas, com os absurdos custos da construção dos cenários na Italia – o custo final, atualizado com a inflação, seria de 123 milhões de dólares. Não é uma tarefa simples, e a obra nova vai naturalmente para sempre ser comparada com a original — e talvez ficar para sempre a sua sombra.
Há diferenças na história do clássico para a nova encarnação – adaptada do livro Ben-Hur: Uma Historia do Cristo, de Lew Wallace. A versão de Timur Bekmambetov (também diretor de Guardiões da Noite) apresenta Judá Ben-Hur (Jack Huston) e Messala (Toby Kebbell) como irmãos adotivos, e não amigos de infância. Essa diferença termina sendo de grande impacto na mensagem final do filme, e deixa a rivalidade – e camaradagem – entre os dois personagens muito mais interessantes. Várias das pequenas mudanças na história fazem com que Messala se torne alguém que nós podemos entender melhor, algo que transforma este filme sobre uma grande vingança em algo bem menos polarizado e preto e branco como as cores dos cavalos presos nas quadrigas. Estamos sempre mais próximos e mais ligados a perspectiva do personagem titular, mas Messala se torna um personagem mais interessante, suas motivações mais ambíguas, seu antagonismo muito mais rico.
Algumas coisas na historia poderiam ter sido melhor aproveitadas. O destino da família de Ben-Hur (sua mãe e irmã) bem como algumas relações entre eles poderiam ter sido exploradas um pouco mais, e a resolução final do filme, que não mata Messala desta vez, acaba acontecendo talvez de forma muito súbita e perfeita, tirando um pouco da sensação da importância do que estava em jogo.
O livro que originou o filme tem o subtitulo de “Uma História do Cristo”, que aqui é interpretado pelo brasileiro Rodrigo Santoro que faz um excelente trabalho. Jesus é apenas um personagem secundário no épico de Ben-Hur, mas mesmo aparecendo apenas pontualmente, tem um profundo impacto no personagem, e na narrativa. E se existe algo em que essa versão foi uma melhoria sobre o clássico, é nesta mensagem. O Jesus de Santoro no filme faz Ben-Hur largar a pedra com a qual ele iria atacar um romano, em uma das cenas em que eles interagem, num pressagio simbólico da mensagem final que chega com a conversão de Ben-Hur para a fé no Nazareno: Seu inimigo é seu irmão. Algo que as demais representações de Messala, como mero antagonista, não conseguem traduzir tão bem.
O filme tem como mote a frase “Primeiro a chegar. Último a morrer”, que se vê repetida nos cartazes, no trailer, e no filme. Uma escolha interessante, já que este filme não é a primeira versão a chegar desta história as telas grandes — nem mesmo a versão de William Wyler de 59 foi, tendo sido precedido por um curta e um longa mudos em 1907 e 1925 respectivamente. O Ben-Hur de Wyler está muito bem marcado na história do cinema, e por tanto ainda longe de morrer em nossa memoria.
O filme de Bekmambetov é definitivamente um épico atualizado para as novas gerações, e a cena da corrida das quadrigas vai deixar você na beirada de sua cadeira. Huston, que inicialmente estava cotado para fazer Messala, faz um muito bom trabalho no papel principal. Pesa, contra o elenco, a eterna comparação com um dos momentos de excelência do cinema. O tempo dirá qual versão de Ben-Hur será a ultima a morrer na nossa memoria, mas apesar do bom trabalho apresentado no remake, minhas apostas ficam com o clássico nesta corrida.