CRÍTICA – BLADE RUNNER 2049

O filme original, de 1982, é um clássico da ficção científica, de grande influência no sub gênero cyberpunk. Graças a este filme, Hollywood começou a prestar atenção às obras de Phillip K. Dick (embora o filme tenha se distanciado bastante do material fonte na adaptação). Não são passos fáceis de seguir e as chances de dar errado são grandes – e uma nova versão de outro clássico da ficção científica e representante seminal do cyberpunk, Ghost in the Shell, foi recentemente adaptado com um resultado muito pobre. Por isso muitos estavam apreensivos sobre esse novo filme dirigido por Denis Villeneuve (diretor de A Chegada), 35 anos depois do primeiro.

Mas Blade Runner 2049 não é uma repetição do erro de Ghost in the Shell. O filme entende e respeita tudo que fez do original o clássico que foi — talvez até um pouco demais. O primeiro filme dividiu críticos inicialmente. O ritmo do filme era muito particular, e nem sempre foi bem recebido. Não é incompreensível que o novo filme tente emular esse ritmo, afinal é uma das características mais marcantes do original. Mas ao contrário do que fez com a fotografia, iluminação, os efeitos e até a música, o ritmo não ganha novos aspectos, não é renovado. Ele parece meramente emulado e talvez até exagerado. Foi no ritmo que um certo grau de pretensiosidade, que um projeto como esse sempre tem, ficou mais óbvio. Mas não chega a nos jogar pra fora da narrativa. As tomadas longas e demoradas explorando cenários e personagens fantásticos são uma forma de deixar o espectador respirar aquele mundo e imergir — mas que às vezes se excede.

A história resgata e renova as questões filosóficas que o primeiro filme trazia. Aborda novos aspectos, traduz para nossos conceitos atuais. Mas ainda é um ‘neo-noir’ em essência. Uma história de detetive onde o que seria “apenas mais um caso” de repente revela uma conspiração de grande impacto. Mas desta vez o protagonista não é o Deckard, revivido por Harrison Ford, e sim K. de Ryan Gosling. K é um replicante de uma nova geração, que caça e “aposenta” outros replicantes. O personagem espelha Deckard considerando que uma das grandes questões (não respondidas) do primeiro filme era se Deckard era, sem saber, um replicante também.

Para Deckard, no primeiro filme, se apaixonar e fugir com ela valida a existência de Rachel como mais que mero objeto/replicante. Um arco que acompanhamos nos questionamentos do que nos faz humanos, e onde deixamos de ser. K começa sabendo que é um replicante, diferenciado-se dos que vieram antes dele mas ainda não sendo humano — não tendo uma alma, como ele mesmo sugere. Mas mesmo sem uma ‘alma’ ele questiona uma ordem “desumana” que recebe, vive uma relação amorosa com Joi, um outro tipo de vida artificial interpretada por Ana de Armas. Nos deixa a pergunta: O que é ter uma alma?

Tentando evitar spoilers, digamos apenas que uma das respostas sugeridas do filme não é plenamente satisfatória, e talvez o próprio final do filme termine sendo testemunho contra essa resposta proposta. Mas é a resposta que os personagens tem, e que os move durante muito da trama.

Também estão no elenco Bautista, Robin Wright e Jared Letto — este último que talvez consiga recuperar a carreira de ator depois de seu decepcionante coringa. No papel de Niander Wallace, CEO da corporação responsável por fabricar os Replicantes, Letto não entrega um antagonista tão marcante quanto o Roy de Rutger Hauer no original, mas ainda faz um bom trabalho. Ainda contamos com Edward James Olmos revisitando seu papel como Gaff numa pequena cena.

O filme entrega tudo que prometia, uma continuação decente e no espírito do original que acrescenta e atualiza a obra sem distorcer o material original. São 2 horas e 43 minutos que valem a pena gastar no cinema, vendo na tela grande o universo de Blade Runner se alargar e ganhar novas gerações de fãs.

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Vicente Marinho

Writer & Blogger

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