CRÍTICA – CORINGA

O mais recente filme da DC que estréia no Brasil amanhã, 3 de Outubro, prometia muita coisa. Seria o primeiro de uma nova proposta para explorar os personagens da DC no cinema, com filmes contidos, sem se preocupar com o chamado Universo Estendido. A proposta parece ser buscar trabalhos mais adultos, mais autorais, o que leva a comparações inevitáveis com grandes obras do final dos anos 80 do mercado editorial de quadrinhos como Watchmen e A Piada Mortal.

Mas o filme consegue cumprir todas as promessas? Em partes. Bastante preso a referências de clássicos de Scorsese como Taxi Driver e O Rei da Comédia, e também fazendo referência a outras encarnações do palhaço do crime nas telas, o filme consegue trazer um ar mais maduro e artístico ao que de outra forma seria mais um dos muitos filmes adaptados de quadrinhos que saem todo ano. Mas ao contrário dos quadrinhos maduros da década de 80, o filme não reinventa o gênero, não traz nada de novo.

É um filme pretensioso, que tinha potencial mas termina se perdendo. Não é uma perda completa. A atuação de Joaquin Phoenix é excelente e sustenta o filme em seus momentos mais fracos. O personagem é muito bem construído e trabalhado, o que só deixa mais gritante o quanto todo o resto está raso e caricato. Seguimos o Coringa o tempo todo, em seu ponto de vista quase incessavelmente. Acompanhamos pouco a pouco sua loucura aumentando e em termos de narrativa audiovisual aqui temos alguns dos melhores momentos do filme — mas também nada que já não tenhamos visto antes em outros filmes. 

Enquanto a loucura do Coringa é muito bem trabalhada na narrativa, o mundo ao redor e como ele reage é um rascunho. Como a mídia retrata o palhaço assassino é algo com um grande potencial para ser explorado — deveria ser um dos maiores pontos do filme. Deveria ser uma das melhores cenas do filme, De Niro e Joaquin Phoenix num grande momento juntos em cena. Mas não é, o que vai acontecer é telegrafado, as idéias que eles expõem no diálogo são frases feitas, que a trama poderia ter reforçado mas não fez. São dois grandes atores fazendo o melhor de um texto fraco.

Houve um debate antes do filme ser lançado sobre o potencial de ser empático demais com os Incels. O filme não é. Assim como a direita conservadora, o filme explora profundamente como a loucura do Coringa funciona mas não quer perder tempo com nada do que está ao redor dela. A mensagem do filme está longe, bem longe, de ser “esses pobres incels”. A mensagem do filme aparece sintetizada numa fala do próprio personagem título. Se há um ponto do filme sobre Incels, é o mesmo que qualquer Republicano americano já disse mil vezes sobre todos os atentados feitos por pessoas identificadas assim: Doentes mentais, que não se deu atenção suficiente a tempo.

É uma pena, pois assim como o talento de Phoenix e De Niro merecia ser melhor explorado, essa relação da mídia e do mundo com a loucura do Coringa proposta neste filme merecia ser muito, muito melhor explorada.

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Vicente Marinho

Writer & Blogger

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