CRÍTICA – DEATH NOTE (2017)

A adaptação para o Netflix de um dos animes mais icônicos de sua geração — e um dos animes de mais sucesso fora do Japão — nunca ia passar sem polêmicas. Mas ao contrario da polêmica do whitewashing de todas as outras adaptações recentes de animes, essa adaptação teve polêmica por escolher um ator negro para fazer um personagem que é basicamente o maior ícone da série, o L.

Foi talvez a melhor escolha da produção. Lakeith Stanfield é de longe a presença mais marcante toda vez que está em tela. As excentricidades que marcam o personagem são encarnadas com naturalidade por ele, e trazem um personagem que francamente é caricato e absurdo fora de uma animação para a realidade. Infelizmente seu par em tela não consegue trazer a mesma força, e a adaptação do Light, encarnado por Nat Wolff, não faz jus ao personagem original.

A adaptação não segue particularmente fiel ao material original, adaptando seu pano de fundo para Seatle e transformando Light e “Mia” (Misa, no original) em estudantes de uma high school padrão e com isso trazendo um sabor particularmente americano a história. Mas isso não é seu defeito, de forma nenhuma. Seu maior defeito é como é óbvio para quem assiste que existe uma história muito maior do que o que caberia em uma hora e quarenta minutos de filme — e especialmente, nesta pressa de injetar conteúdo, quebrar as próprias regras estabelecidas pela história.

Tanto Light quanto L são vendidos como personagens super inteligentes — o filme falha consideravelmente em dar consistência a isso no Light, mas estabelece bem as capacidades dedutivas do L sem que nos leve a duvidar do próprio filme. Ele é um detetive fantástico, mas dentro do contexto do filme é crível. Até chegarmos no terceiro ato, quanto finalmente a genialidade de Light é apresentada de uma forma mais consistente, mas para chegar a conclusão do filme, tanto um quanto o outro quebram as regras estabelecidas pela narrativa do filme. A conclusão dedutiva de L dá um pulo mágico que é possivelmente o maior furo do roteiro — e deus sabe que tá longe de ser o único — e o plano de Light só dá certo por que as regras do Death Note foram “momentaneamente ignoradas”. Esse é um pecado muito sério em um roteiro para ser ignorado.

Williem Defoe parece bastante subaproveitado no papel de Ryuk, já que o personagem não é particularmente expressivo já no material fonte e deixa Defoe com quase que apenas o espectro vocal para seu trabalho — que não é ruim, mas não é particularmente marcante também.

É uma obra que não podemos defender como um grande filme em si, e não está perto o suficiente do material fonte para satisfazer a base de fãs já existente. Cabe como uma introdução ao universo de Death Note para quem nunca teve contato, com chances de agradar quem não tem grandes expectativas. Razoável, mas não mais que isto.

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Vicente Marinho

Writer & Blogger

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