Elis foi uma mulher ousada, dominante em um universo majoritariamente masculino na época. Infelizmente o filme se resume aos seus trejeitos. A obra de Hugo Prata é mansa, com a maior ousadia sendo um exagero melodramático em pontos chaves — que não funciona. Passeia com casualidade sobre quase 20 anos de carreira, dando a sensação de mudanças muito bruscas e extremas já que levam segundos na tela, apesar de serem espaços de tempo de anos na vida real. Faz parte do problema de traduzir para a tela grande um período de tempo amplo (da adolescência da cantora até sua morte) mas poderia ter se buscado soluções mais delicadas.
O filme passeia por momentos muito ricos da história nacional, tanto do cenário musical quanto do cenário politico, mas aborda esses momentos de forma muito superficial e fraca — e com resoluções frágeis. E mesmo se a grande aposta fosse no melodrama, o filme passa pela fase final da vida de Elis sem explorar justamente seu elemento mais dramático. Com uma montagem e trilha sonora de impacto quando chegamos ao seu final, é um impacto gratuito, melodramático e súbito, já que a construção da tensão até chegar lá é praticamente inexistente. O elenco também se apresenta de forma não muito mais que satisfatória. Andreia Horta captura muito bem a imagem e os trejeitos de Elis, mas não mais do que isto.
O filme ainda é interessante para apreciar um resumo da carreira da cantora. Os fãs certamente vão ser tocados pelas semelhanças entre a atriz e a personagem, e seus momentos musicais são tocantes. Mas não é um filme que marcará a história do cinema brasileiro, enquanto sua personagem tema é um marco da musica brasileira.