Herege, novo filme de horror da A24, traz um pedigree promissor. Hugh Grant estrela como o antagonista, que convida duas missionárias mórmons para sua casa sob o pretexto de interesse na religião. No entanto, uma vez que elas chegam, ele parece mais interessado em um debate intelectual sobre a fé. O personagem de Grant começa apresentando argumentos que questionam a religião como um todo, mas, aos poucos, seu cinismo se desloca do papel de ateu cético para o de um líder de seita. A atuação de Grant domina a tela, e seu carisma tradicional de galã inglês, agora usado com propósitos sinistros, é uma excelente evolução em sua carreira.
O filme por vezes parece pretensioso, com o embate entre o intelectual cínico e as missionárias religiosas se apresentando quase como um estereótipo de discussões sobre fé. No entanto, embora o personagem de Grant insinue uma visão crítica da religião, ele não se apresenta diretamente como ateu; aos poucos, se colocando cada vez mais como um pretenso líder espiritual. Interpretar Herege apenas como um debate entre razão e fé é subestimar o filme, assim como o personagem de Grant subestima suas vítimas. O verdadeiro embate está entre o cinismo manipulador dele e o decoro resiliente delas.
No geral, Herege é um thriller bem executado que aborda a manipulação e o uso da fé como ferramenta de controle. A trama, que em momentos ecoa a própria arrogância do vilão, promete um thriller psicológico com uma camada filosófica, mas o verdadeiro impacto do filme não está nos diálogos, mas no espetáculo. Herege entrega uma experiência audiovisual completa, bem amarrada e enxuta, tornando-o uma obra que realmente vale ser assistida no cinema.