O possível último filme de Hayao Miyazaki apresenta um título internacional que, de certa forma, distorce a essência do filme. Provavelmente por escolhas de marketing ou devido ao estigma persistente da animação no Ocidente, o título sugere uma obra mais leve e aventureira, alinhada com “Ponyo” ou “A Viagem de Chihiro”. No entanto, este filme mergulha mais fundo, sendo uma obra muito mais pessoal e introspectiva do que o nome em inglês dá a entender. Em japonês, o filme se intitula 君たちはどう生きるか, que se traduz como “Como Vocês Vivem?”, insinuando desde o início um tom mais reflexivo. É importante notar que o título é o mesmo de um livro que desempenha um papel simbólico no filme, servindo como um presente da mãe de Mahito, embora a narrativa não seja uma adaptação direta deste.
A história se desenrola durante a Segunda Guerra Mundial, num Japão à beira da derrota. Mahito, o protagonista, perde sua mãe em um dos inúmeros incêndios provocados pelos bombardeios americanos. Seu pai, responsável por uma fábrica de componentes aeronáuticos para o exército japonês, casa-se novamente, desta vez com a tia de Mahito. Na casa da família de sua tia, onde ela e a mãe de Mahito cresceram, ele descobre uma torre mágica que o conduz a um universo repleto de fantasia.
Apesar da riqueza metafórica e do cenário fantástico, os temas abordados no filme são tudo, menos superficiais ou simplórios. A classificação indicativa de 12 anos no Brasil já sinaliza que a obra transcende o público infantil. Se este realmente for o adeus de Hayao Miyazaki à indústria cinematográfica — após um retorno da aposentadoria —, seria uma despedida à altura de sua influência monumental no universo da animação, deixando um legado que será profundamente sentido.