Quinto filme do chileno Sebastián Leilo, Uma Mulher Fantástica conta a luta por reconhecimento de Marina (Daniela Vega) quando seu namorado mais velho, com quem ela vivia, morre de um mal súbito. Como uma pessoa trans, Marina tem que constantemente reafirmar sua identidade enquanto mulher perante médicos, policiais, e a família do namorado.
Subitamente sem lugar para morar, sem carro, sem a companhia da cadela que morava com eles, Marina tem de lidar com a perda de muito mais do que apenas um amante. O filme trata do assunto com delicadeza, se peca um tanto na obviedade. Com momentos de realidade fantástica invadindo a narrativa que não são particularmente sutis em suas metáforas como uma ventania tão forte que impede a personagem de andar para frente ou alçando voo numa cena de dança na boate, literalmente tentando escapar dos problemas do mundo.
Mas há um valor na construção imagética do filme mesmo que ela as vezes seja óbvia. As vezes o óbvio precisa ser reiterado, especialmente quando tratamos de uma população tão raramente retratada em tela de uma forma tão honesta. O filme também é bem sucedido em evitar uma estetização da miséria, ou ode ao sofrimento, mostrando uma Marina com amigos, com uma irmã receptiva, com trabalho como cantora e como garçonete. Uma pessoa com muito além dos sofrimentos que lhe são infligidos pela dificuldade de aceitação na sociedade.
É um retrato de um momento difícil na vida de uma pessoa, um luto que precisa ser vivido mas que depois se segue adiante, cabeça erguida, como deve ser.