CRÍTICA – A VIGILANTE DO AMANHÃ

A Vigilante do Amanhã é uma adaptação de um longa metragem de animação japonesa de 1995, que foi fonte de inspiração de inúmeras produções (mais notavelmente Matrix), e agora dá a volta completa e ganha uma adaptação hollywoodiana. Adaptações de animação japonesas em Hollywood tendem a ser polêmicas. Houve um ensejo de adaptar Akira (outra obra seminal japonesa) que nunca saiu do canto, e houve uma adaptação que saiu do papel e fracassou miseravelmente baseada em Dragon Ball. Entre muitos motivos para esses fracassos, uma reclamação tem sido contante de uma parte do público alvo: O “embranquecimento” do cast — Goku foi interpretado pelo canadense Justin Chatwin e a Major de Ghost in the Shell está sendo interpretada por Scarlett Johansson. Outra preocupação constante é o “emburrecimento” do material. Coisa que o diretor de A Vigilante do Amanhã, Rupert Sanders , não ajudou quando disse que estava “diminuindo” a “filosofia” no filme para deixar ele mais acessível.

O ideal seria falar do filme em seu próprio mérito, como um produto em si só — mesmo que relacionado aos outros materiais. Infelizmente o filme não dá essa oportunidade, buscando reproduzir momentos e quadros da animação de origem. A repetição destes momentos quando, em termos de narrativa, não seguimos o mesmo enredo, é decepcionante para fãs — e confuso para quem não conhece o material original. As motivações não são as mesmas e as cenas se transformam causando a pergunta do por quê os personagens estarem fazendo aquilo. A resposta é simples: para reproduzir uma cena famosa e satisfazerem fãs. Falham nisto e em produzir cenas fortes autênticas na narrativa do filme.

Mas o filme tem momentos em que mostra seu brilho próprio. As cenas que o filme mais se afasta da referência do original são seus melhores momentos imagéticos — ainda que as vezes a narrativa cambaleie. Há um visual retrofuturista que é novo desta iteração e produz resultados fantásticos na tela grande. Os momentos novos da narrativa, que trazem mais personagens que no original tem menos destaque, um pouco mais próximos do centro da ação, são muito bons. A própria narrativa em si, se diminuída na “filosofia”, ainda trás seus questionamentos próprios sobre identidade num cenário onde corporações, governos, tecnologia e o ser humano se confundem. São questionamentos talvez mais típicos e menos inovadores (pelo menos em Hollywood), mas não deixam de ter seu mérito.

A grande revelação do roteiro, que os trailers e todo o marketing do filme parecem estar trabalhando arduamente para manter em segredo, é inteiramente novo e sem relação com o produto original — mas bem relacionado com as polêmicas que a própria produção causou. É interessante que eles tenham buscado tratar da polêmica (talvez o roteiro já tivesse este twist antes mesmo da polêmica, quem sabe), mas não é uma boa resolução para a situação. Talvez não pretendesse ser uma resolução, meramente um comentário, um reconhecimento.

No geral, é um filme que talvez consiga recuperar as adaptações de animações japonesas da má fama adquirida, sendo uma produção com maior orçamento e com algumas lições aprendidas. A recepção do público inicialmente não estava muito boa, mas quem se dispor a por o filme a teste talvez consiga ver nele os méritos que ele tem mais do que as tentativas fracas de reprodução de quadros do material fonte. É um produto muito melhor do que a adaptação de Dragon Ball foi. Mas não é um produto a altura do Ghost in the Shell original.

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Vicente Marinho

Writer & Blogger

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1 Comment

  • Emmanuel Lopes

    Você vai gostar, 😉

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