Aquarius, novo filme de Kleber Mendonça Filho, que foi bem recebido em Cannes vai ter sua primeira exibição pública no Brasil hoje, no Recife. Os ingressos para a sessão que ocorrerá no Cinema São Luiz esgotaram-se 40 minutos após liberarem a venda, o que deixou o diretor muito orgulhoso. “Já peguei filas para conseguir ingressos de muitos filmes, e saber que agora isto está acontecendo com um filme meu é maravilhoso” .
O Sétima Cabine esteve na coletiva de imprensa realizada ontem. Pela própria coletiva é possível sentir o quanto a equipe e o elenco do longa estão entrosados. Pelos relatos, imaginamos que o processo de produzir o longa teve um ritmo tão natural e tranquilo quanto o do próprio filme.
Para gravar o filme, Kleber conta que passaram 12 semanas filmando no Edf. Oceania, na beira-mar de recife – último prédio antigo ainda em pé na orla. O roteiro tinha sido escrito com o Edf. Caiçara em mente, mas o prédio foi demolido antes da produção começar. “Se perdeu uma referência da cidade e eu perdi um cenário.” A demolição do prédio foi alvo de protestos, e muitas brigas judiciais. O filme fala justamente sobre uma moradora resistindo de vender o ultimo apartamento de seu prédio para uma construtora.
Na conversa com a imprensa, Sonia Braga disse que Aquarius “devolveu minha identidade como atriz de cinema brasileiro” mas afirmou que apesar de estar longe das telas brasileiras a anos, sempre esteve conectada com o Brasil, tem uma casa em Niterói e nunca esteve completamente afastada. Ao pedirem que definisse sua personagem, Clara, com uma palavra, Sonia disse que “Clara não é uma palavra só, ela é todas as palavras, ela é um dicionario” e também pontuou que “viemos de lugares diferentes, eu e Clara, mas nos juntamos numa só voz”. Sobre as primeiras conversas com o diretor sobre o filme, ela ainda diz que “parecia que estava falando da minha vida e não um roteiro”.
Maeve Jinkings, que interpreta a filha de Clara, também descreve que foi “extremamente fácil, como se o personagem já viesse de mim”, e confidenciou que “minha mãe vivenciou exatamente o que Clara vive” no filme, inclusive que o prédio onde ela morava coincidentemente se chamava Aquarius. Zoraide Coletos, que interpreta a empregada de Clara, contou que descobriu que ia contracenar com Sonia Braga pelos jornais. “Um sonho que ainda não acordei”. Aquarius é o seu primeiro longa, assim como o de Pedro Queiroz, que interpreta o sobrinho de Clara. Pedro disse que “achou muito tranquilo trabalhar com grandes atores”.
O filme, que já pudemos conferir na sessão para imprensa, trabalha muito com sensações de nostalgia. Kleber falou da importância entre manter um equilíbrio “entre uma nostalgia excessiva e uma boa, de respeito ao passado”. O filme é bem sucedido em transmitir isto, e tem um equilíbrio perfeito entre evocar a nostalgia e ao mesmo tempo representar um debate atual tão eficazmente. Não só Recife mas muitas grandes cidades do brasil e do mundo sofrem com as dores de crescimentos desregrados, perdendo suas memórias no processo.