CRÍTICA – BINGO, O REI DAS MANHÃS

Ao se inspirar na historia do Arlindo Barreto durante a fase em que interpretou o Bozo, o roteiro de Luiz Bolognesi (Bicho de sete cabeças) nos entrega um drama, que as vezes é comédia (ou comédia que as vezes é drama?) e um retrato naturalista, que as vezes é fantástico, deste momento do ator. Sob a direção de Daniel Rezende, Bingo é uma das melhores surpresas de 2017. Vladimir Britcha entrega um personagem carismático e marcante, que nos leva numa montanha russa de riso e choro ao longo do filme. O filme consegue nos trazer um drama de superação de vício sem ser moralista ou piegas e regado a um humor que não diminui nem desconecta do sofrimento do personagem.

Bingo passeia sobre a história vestindo a realidade com uma maquiagem de um palhaço. A fotografia de Lula Carvalho transforma momentos naturalistas da história do ator em súbitos momentos oníricos e emocionais que expõem para nós uma visão muito mais pessoal do drama do personagem — dando ainda mais força a atuação de Britcha, que brilha como nunca no filme mesmo não tendo sido a primeira escolha para o papel. Vendo Bingo pronto, é impossível imaginar qualquer outro ator carregando esse papel tão bem. Contracenando com ele vemos Leandra Leal na diretora (evangélica) do programa e seu eventual par romântico, fazendo um bom trabalho como contraponto ao Bingo/Augusto Mendes de Britcha; Ana Lucia Torres como Marta Mendes, a mãe do ator e também atriz e vedete de rádio e Tainá Müller como a ex esposa e também atriz de televisão. As três mulheres marcam a história do personagem, junto com seu filho, Gabriel, interpretado pelo ator Cauã Martins — que some um pouco junto dessas interpretações tão marcantes, mas não tanto que não consiga manter a força dramática da história.

É um filme que faz um grande trabalho em todos seus departamentos, com um roteiro que consegue evitar ser piegas sem se esquivar do drama e escapa do proselitismo moralista mesmo sendo uma história de superação de vícios em álcool e drogas junto a igreja. Conta com uma atuação que consegue ser forte e cativante, sem romantizar nem desumanizar os defeitos do personagem; e uma montagem visual que consegue passar por momentos experimentais e melodramáticos, naturalistas e oníricos, casando tudo tão bem que é difícil não aplaudir o filme de pé quando os créditos sobem. Um dos melhores filmes de 2017 até agora, entre nacionais e internacionais, a passar pelo circuito comercial.

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Vicente Marinho

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